Pessoas que também ocupavam o imóvel estão sendo localizadas e ouvidas pelo delegado Pereira. A linha de investigação passa necessariamente por pessoas que frequentavam ou residiam no local e que conheciam a rotina do ambiente. Por telefone, o Delegado Chefe da 4ª Subdivisão Policial (SDP) de União da Vitória, Douglas de Possebon e Freitas, falou sobre as investigações. “Tudo começa na necropsia, onde o médico constatou algumas marcas de facadas no abdômen e na perna. Segundo o médico, essas facadas não causariam a morte do Gilberto, mas a cabeça não estava completa, então ele pode ter recebido algum golpe na cabeça, desfalecido, e alguém ateou fogo no quarto da vítima”, explicou. Ainda conforme o delegado, o incêndio, provocado, foi colocado no quarto onde Gilberto estava e, na sequência, se alastrou por toda a edificação que era de madeira, inclusive o assoalho, na óbvia intenção de ocultar o homicídio. “Com esse apontamento do médico legista, o que antes seria somente um incêndio, passamos a investigar como um fato doloso, ou seja, um homicídio. Estamos ouvindo as testemunhas, já que quatro pessoas moravam no prédio, como se fosse uma pensão. Mesmo com a oitiva dos inquilinos, a polícia corrobora a versão deles, com o sistema de câmeras de monitoramentos dos edifícios vizinhos ao local dos acontecimentos”.
A autoridade policial disse que por meio das investigações, a Polícia Civil terá elementos suficientes para montar a cena do crime e apontar o que, como e por que esse crime aconteceu.
Prédio foi consumido pelo fogo na noite de terça
A terça-feira, 12, for marcada por um cenário diferente em União da Vitória. Pela manhã, a visibilidade nas ruas do centro estava comprometida com uma nebulosidade forte, resultado do clima instável do outono. A tarde, de novo, as ruas estavam cobertas com fumaça, só que dessa vez resultado de uma tragédia: a fumaça vinha do incêndio que destruiu uma edificação antiga no centro da cidade, local que abrigava o antigo Hotel Neumann.
Pouco depois das 17h30 os bombeiros foram acionados para atender a ocorrência. Muito rapidamente, o fogo se espalhou, sendo necessário o reforço da equipe. Para isso, mais um caminhão de União da Vitória foi deslocado para lá e foram chamados os bombeiros de Porto União. Um caminhão pipa da prefeitura também ajudou. A preocupação maior era que o prédio atingido pelo fogo está localizado ao lado de um dos maiores hospitais da região, o Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI), que também fica na rua Dr. Cruz Machado. A edificação atingida era bastante antiga, de madeira, e o fogo tomou conta da parte superior do prédio, entre o telhado e o forro de madeira.
O trabalho dos bombeiros garantiu que o fogo não se alastrasse até o hospital. Porém, durante a ação, uma vítima foi encontrada e, horas mais tarde, identificada como o proprietário do imóvel, o dentista Gilberto Schumann, 53 anos.
Local do incêndio era antigo Hotel Neumann
O incêndio que deixou a estrutura do antigo hotel no chão e luto na família Neumann e Schumann, desperta na comunidade do Vale do Iguaçu a curiosidade em saber mais sobre o empreendimento. Contudo, agora, apenas as histórias compartilhadas entre os familiares servem como material histórico já que até fotos do espaço são difíceis de encontrar em ambientes de pesquisa comum.
Conforme Tereza, mãe do prefeito de Porto Vitória, Kurt Nielsen, sua mãe teria comprado o hotel, já em funcionamento, na década de 50. Na época, uma senhora de nome Mariana (Tereza não lembra o sobrenome) seria dona do empreendimento. “A Maternidade (APMI) estava ainda em construção quando meus pais compraram o hotel. Até o Kurt nasceu lá. Minha mãe era acostumada a lidar com o povo, então, o hotel tinha muito movimento, vinha gente de todo lugar, tinha pensionista, tudo”, recorda. O hotel teria funcionado até há poucos anos, quando Olga, mãe de Gilberto Schumann, irmã de Tereza, faleceu. Os filhos – eram em quatro irmãos – decidiram por encerrar o negócio hoteleiro.
Aparentemente, o dentista teria decidido ficar com o imóvel. No antigo hotel, montou seu consultório e adaptou parte do prédio para ser sua moradia, especialmente após o fim de seu casamento com a psicóloga Josiane Flaresso, com quem teve filhas gêmeas. É provável também que Gilberto tenha colocado alguns quartos à disposição de locação, de maneira informal. Embora outros sobrenomes apareçam na história do hotel e na própria gestão do ambiente, a árvore genealógica tem os Neumann como a base de tudo.
Locação de quartos
De acordo com a equipe da Ação Social de União da Vitória, o dentista alugava alguns dos quartos do hotel. No momento do incêndio, três dos quatro inquilinos estavam no imóvel. A equipe da Pasta não soube informar como eram feitos os contratos de locação, se tinham ou não formalidade. Todos os moradores do hotel foram socorridos na noite de terça, um deles, em estado de choque. Eles foram abrigados por amigos ou por colegas de trabalho.
APMI mantém rotina normal
O susto foi grande, mas a solidariedade maior ainda. Embora o incêndio tenha acontecido ao lado da APMI, conforme a direção da casa hospitalar, nem estrutura nem serviço foram afetados pelo incêndio. “Foi um susto grande, mas desde o início, quando foi detectada a fumaça, os Bombeiros já estavam trabalhando. As coisas não foram piores porque a ajuda veio na hora certa. No hospital, entrou um pouco de fumaça e uma enfermaria de gestantes foi realocada. Não tivemos nenhuma interrupção de atendimento. O trabalho continua no que sobrou, sai um pouco de fumaça, mas está tudo tranquilo. Ninguém sofreu nenhum trauma”, conta a administradora da APMI, Antônia Bilinski. O hospital foi inaugurado em 1954. Sua construção levou cerca de dez anos. Na época, o hotel já existia, vizinhando a unidade.
Relembrando: Hotel Paraná também foi destruído em um incêndio
Entre as décadas de 70 e 80, o Hotel Paraná, que ficava na Praça Coronel Amazonas, entre a atual Lojas Ótima e o salão Quatro Irmãos, também teve sua história encerrada a partir de um incêndio. O imóvel era de 1917, assim como o da escola Professor Serapião e a antiga prefeitura de União da Vitória. As causas do incêndio não são exatamente um fato público até hoje.
Bom humor e excelência profissional eram as marcas de Gilberto
A saudade do dentista bem-humorado, flamenguista apaixonado pelo time, com uma piada pronta a qualquer hora e disposição para rir com todos, já está no coração de quem o conhecia. Ele foi vítima do incêndio registrado na noite de terça. Gilberto Schumann, 53, era conhecido por ser de uma sociabilidade fácil, pela turma cheia de amigos, mas também por ser carinhoso e ter muita técnica profissional.
“O ‘Nenê’ era um fanfarão. Companheiro, sincero, um cara sensacional. Era um homem de personalidade forte, um cara querido, um cara bom. É um grande amigo meu, o Nenê. Difícil falar, ele me enchia o saco, mas ele era o Nenê, sempre foi. Sempre pronto para ajudar. Tinha um coração enorme”, desabafa o primo e amigo de Gilberto, Wagner Neumann.
A sobrinha do dentista confirma esse perfil especial. “Ele era extremamente sociável, tinha muitos amigos em várias turmas diferentes. Como ele era uma pessoa muito boa, ele não se incomodava em ajudar, se doava pelos outros”, afirma uma das sobrinhas de Gilberto, Marcela Hobi. “Ele era meio teimoso, mas muito bom. Ele me buscava onde eu estivesse. Fazia tudo pela família. Ele nos amava bastante”, completa.
Em sua história, o dentista deixa uma história de sorrisos e de dedicação à carreira. Além de ter seu próprio consultório, Gilberto também manteve uma carreira na prefeitura de União da Vitória. Ele foi Coordenador Odontológico entre os anos de 2009 a 2012 e supervisor administrativo, em 2015.
Gilberto Schumann completaria 54 anos no dia 22 de dezembro.