Pequenas, mas donas de gigantescas habilidades

Abelhas seguem inquietando especialistas por suas múltiplas capacidades. Perfil aumenta paixão dos apicultores e é referencia em sala de aula

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Abelhas - CAPAMuitos a temem. Outros fogem ao menor sinal de sua presença. Há quem sofra com sua picada e outros que resistem bravamente a centenas delas. Inquietantes, as abelhas fascinam especialistas e são apontadas como chaves para a sobrevivência humana. O cientista Albert Einstein chegou a anunciar o fim da humanidade a partir da extinção das abelhas. “Se as abelhas desapareceram da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência”, afirmou em uma célebre e polêmica frase. Cientificamente, a afirmação do gênio tem fundamento. “As abelhas fazem a polinização das flores, mas também de outras plantas. Sem alimento, o homem morre”, diz, com simplicidade, o apicultor de Porto União, Celso Drosdoski, há mais de 20 anos no ramo.

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Abelhas são insetos sociais que precisam da comunicação para se organizar (Fotos/Mariana Honesko)

O fim das abelhas ainda é uma realidade distante, mas já avistada. Conforme Drosdoski, o desmatamento, reflorestamento e o uso de agrotóxico nas plantações, podem colocar em xeque a sobrevivência das espécies. Algumas, inclusive, começam a desaparecer. Foi justamente para entender os motivos disso que Paulo de Souza, brasileiro que vive na Austrália, acompanha um experimento que tem como intenção determinar o que impacta a vida destes insetos. Ele desenvolveu um sensor, colocado nas costas dos insetos e que funciona como um “crachá de identificação”, já que transmite dados e registra o que acontece com o inseto. O microaparelho deve acompanhar os movimentos de cinco mil abelhas, examinando a polinização feita por elas e sua produção de mel. Os primeiros resultados do teste mostraram que as abelhas com sensores que tiveram contato com os defensivos agrícolas – uma das maiores ameaças aos insetos – demoravam mais para voltar à colmeia – ou nem voltavam. Ainda no segundo semestre deste ano, a investigação atravessa o oceano, troca de continente e chega ao Brasil.

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Drosdoski encontrou na apicultura sua paixão e sobrevivência

Até lá, os insetos seguem ensinando. “Com a apicultura aprendi especialmente a manter e ter contato com o meio ambiente. Se você corta a grama, por exemplo, a abelha sente o cheiro e vem em cima da gente. Ela ataca, sente que o meio ambiente foi mexido e quer defender”, sorri Drosdoski. “A gente nunca para de aprender sobre abelhas. Quanto mais você trabalha, mais você aprende”, diz.

O Colégio Cosmos, também em Porto União, tem o trabalho da abelha como foco. As ações e comportamento do inseto mesclam as disciplinas e agradam especialmente os baixinhos. A instituição mantém o projeto desde 2009 quando, por uma iniciativa particular da diretora, Sibila Elaine Kreuzberg Silva, encontrou nas abelhas a possibilidade de potencializar as tradicionais feiras de ciências. “Eu gostava de saber sobre elas e trouxe a ideia para cá. No colégio a abelha é um projeto dentro da área de saúde”, explica.

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Simetria perfeita é ponto para os insetos: abelhas também são referência em modelo de construção

Desde os bebês, todos os alunos aprendem sobre o tema. Além da sala de aula, uma abelha ampliada milhões de vezes, foi montada na instituição. Ela tem oito metros e pode ter seu interior visitado. Quem entra na “barriga” da abelha, entende melhor o “nascimento” do mel. Nas feiras, é possível ainda encontrar receitas à base de mel, insetos feitos com material reciclável e uma lição sobre o comportamento de liderança e comunicação das abelhas. “Neste ano queremos incluir também as novas pesquisas, que estão colocando o mel como ingrediente na fabricação dos cosméticos”, antecipa Elaine.

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Colégio Cosmos tem trabalho das abelhas como filosofia

As abelhas são trabalhadoras incansáveis. Colmeias da espécie Apis mellifera, por exemplo, cuja origem é europeia, conseguem produzir entre 12 e 100 quilos de mel por ano. Eficiente, a abelha desta espécie é agressiva e dona de potentes ferroadas. Aliás, estudos apontam que até isso é bom: o veneno extraído do ferrão é capaz de auxiliar no tratamento de reumatismo.

Já as Manduris, de origem indígena, são mais pacatas. Sem ferrão, costumam não se manifestar a partir do contato humano. Por serem bem menores que as mellifera, porém, tem produtividade menor. “Não dá nem um quilo de mel por ano”, sorri Drosdoski. A abelha conhecida popularmente como “alemãozinha”, tem tamanho e produção similar às Manduri. O batismo germânico é uma referência aos olhos verdes e corpo claro. A produção de mel é pequena, mas, garante o apicultor, de boa qualidade.

Abelha - 03Além de trabalharem bem e terem respeito pela rainha, dona de muitos benefícios na colmeia, as abelhas, de modo geral, são exemplos na engenharia. Seus favos têm traços perfeitos e uma produção alinhada, que evita, inclusive, o escorrimento – e desperdício – do mel. “A simetria é perfeita. O favo é um sextavado perfeito”, admira Drosdoski.

Nem só de mel vive a produção: as abelhas produzem ainda geléia e própolis, cuja produção é de até 100 gramas por “melgueira”, a cada dez dias. O trabalho delas garante o trabalho dele. Drosdoski vive da venda de mel e de outros 30 produtos derivados da principal matéria-prima feita pelas pequenas guerreiras nas 150 colmeias que mantém. A produção está disponível em estabelecimentos locais e parte dela vai para outras regiões. Até cremes cosméticos já estão disponíveis.