RELIGIÃO: Coroação da Rainha da Polônia completa 300 anos; conheça mais

Símbolo máximo entre a comunidade católica do País, quadro da imagem de Nossa Senhora de Czestochowa tem sua história misturada com a da própria etnia

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Atualizado há 7 anos

Imagem original é mais simples, sem o luxo das pedras preciosas
Imagem original é mais simples, sem o luxo das pedras preciosas

A imagem de Nossa Senhora de Czestochowa representa para poloneses exatamente o que representa para os brasileiros a imagem de Nossa Senhora Aparecida. No País, a devoção é máxima. A história da Virgem é marcada pela dor, pela luta e pela sobrevivência, exatamente como a da etnia. Por isso, há uma fusão entre elas. “Atualmente é o símbolo cristão mais conhecido da Polônia”, enfatiza a polonesa, professora do idioma em União da Vitória, Ludmila Pawlowski.

Tão conhecido e tão forte como símbolo que apenas em 2011, por exemplo, cerca de 830 mil pessoas andaram a pé até o Santuário, que fica no Sul da Polônia, não muito longe de Cracóvia. “Tivemos romeiros que andaram mais de 600 quilômetros a pé para chegar no Santuário”, ressalta a professora. E todo ano é assim: mais de 200 romarias levam féis para mais perto da imagem.

Uma história de bastidor

A imagem de Nossa Senhora de Czestochowa, diferente de Nossa Senhora Aparecida, está em um quadro – e não em uma imagem física.  “Reza uma lenda que foi São Lucas que pintou a imagem nas tábuas da ultima ceia. Mas é uma lenda. O que sabemos é que é um ícone, pintada no Oriente”, conta a professora.

O príncipe Wladuslaw Opolczyk levava a imagem da cidade de Belz para Opole. “Era um transporte a cavalo e quando chegaram à Czestochowa, os cavalos não andaram mais. O príncipe entendeu como um sinal, de que nossa senhora queria ficar lá”, sorri Ludmila. Foi assim que o príncipe decidiu por deixar o quadro na cidade e também fundar ali um convento dos paulinos. O quadro foi doado para a recém-criada instituição, em 1384. “Dois anos depois disso, aconteceu o primeiro milagre, quando um pintor cego recuperou a visão”, conta a professora polonesa. “E a partir disso, outros milagres vieram acontecendo”, completa.

Na primeira metade do século 15, tchecos invadiram a cidade e também o convento. Do altar, arrancaram o quadro de Nossa Senhora, com violência. “Usaram espadas, furaram o quadro, cortaram e jogaram fora. Os poloneses acharam a imagem novamente. A pedido do rei, o quadro foi restaurado”, conta a professora. A pedido dos fiéis e do rei, a imagem jamais foi a mesma: alguns cortes feitos na altura do rosto e do pescoço de Nossa Senhora foram mantidos, como forma de lembrança daquele ataque. A restauração levou cerca de dois anos. Depois disso, a peça ficou inicialmente em uma prefeitura e mais tarde, voltou para Czestochowa.

Em 1650, de novo, mais um ataque. Naquela ocasião, eram os suecos o povo que invadia a Polônia. Foi algo tão sério que os poloneses batizaram o conflito de Dilúvio, uma referência ao episódio bíblico de destruição causada pela água. “Eles invadiram pela primeira vez o coração da Polônia. Mais de três mil soldados suecos participaram deste conflito. Foi bem parecido com o que aconteceu na segunda Guerra Mundial. Na época, a população da Polônia diminuiu muito”, relembra Ludmila.

Temendo um novo ataque, a imagem foi escondida. Dessa vez, o quadro não foi tocado, tampouco os muros de proteção do convento. “O quadro foi limpo e um frei pintou atrás dele 12 cenas da história daquele quadro. Elas ficaram atrás do quadro original até a primeira metade do século 20. Depois, tiraram o quadro de trás, renovaram e deixaram separado. As cenas pintadas encontram-se hoje em museus”, observa.

Coroação de Nossa Senhora

A data de coroação de Nossa Senhora a tornou mais conhecida no Brasil. A data foi lembrada no mês de agosto. O gesto foi político, assinado pelo rei da Polônia em 1656, João Casimiro. Foi em meio ao Dilúvio, quando o rei, cansado e desesperado, apelou para a fé. “Ele foi em uma igreja, dobrou os joelhos, entregou o poder à Rainha. Ela se tornou ali, soberana da Polônia. Foi um ato político”, conta Ludmila. Um padre enviado pelo Vaticano, mais tarde, chamou Nossa Senhora, em latim, de Rainha da Polônia. “Depois daquele momento, os suecos começaram a perder. A Polônia saiu salva”, sorri a professora.

O gesto do rei Casimiro foi completado no dia 26 de agosto de 1717, portanto, há 300 anos. Naquela ocasião, mais simbólica, 200 mil pessoas compareceram ao evento. “Isso num tempo sem internet, sem telefone. Conseguiram reunir este tanto de gente. Foi algo muito expressivo mesmo”, completa.

Beleza sacra

A partir do século 17, os poloneses criaram modelos de “decoração” para o quadro de Nossa Senhora. Por isso, criaram mantos e coroas, todos com pedras preciosas. Eles são trocados dependendo da ocasião. É o mesmo quadro, mas com as várias versões. Na imagem, há alguns detalhes únicos. É o caso da coroa de Nossa Senhora e da que está na cabeça de Jesus Cristo. “São 56 raios na de Nossa Senhora, o que remonta à idade provável dela, quando morreu. Na de Cristo, são 33 raios”, detalha Ludmila.