Turismo na Serra Dona Francisca não termina bem

Assalto não deixa feridos, mas assusta família de União da Vitória. Carro é levado, há troca de tiros, e perseguição garante solução do caso

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Casal Vanessa e Giovani depois do assalto: cena deixou marcas e lições
Casal Vanessa e Giovani depois do assalto: cena deixou marcas e lições

A narração do casal é digna de roteiro cinematográfico. Foram 30 minutos de ação, medo, tensão e por fim, a sensação de alívio. O ano não começou exatamente como queria o casal, Giovani Weinhold Demétrio, 37, e Vanessa Maria Augusto, 34. Na volta para casa, depois de uma temporada tranquila na praia de Barra do Sul, no litoral de Santa Catarina, eles decidiram aproveitar o cenário turístico da Serra Dona Francisca. Giovani, Vanessa, a mãe e o filho da assistente social, uma senhora de 59 anos e um jovem de 17, param logo após um dos mirantes, para olhar mais de perto a queda de uma cachoeira.

Eram 11 horas do dia 8 e com exceção do menino, que havia tomado remédios para dormir na viagem, todos saíram do carro. “Quando a gente parou tinha outras duas famílias por lá também, mas logo saíram. Foi então que um cara chegou sozinho, mostrou que estava armado e pediu as chaves do carro”, relata Giovani. Era o início do pesadelo. O assunto acabava de ser anunciado.

Segundo o casal, o assaltante apareceu de “cara limpa”, estava nervoso, gritava ao pedir as chaves. “Ele dizia que era para deixar tudo dento do carro e só entregar as chaves”, lembra Vanessa. Além das ameaças verbais, o cartucho cheio de um revolver calibre 38, conforme apurou mais tarde a Polícia Rodoviária Estadual, inibia a ação das vítimas. Ainda assim, a ação foi rápida. Vanessa e a mãe acordaram o jovem que dormia no carro e ainda conseguiram sacar de dentro do veiculo uma bolsa e um celular. “Eu tive vontade de reagir algumas vezes porque o assaltante abaixava a arma quando via os carros na Serra. Daria tempo”, pontua Giovanni.

Mas não deu. O jovem assaltante, de 25 anos, ligou as chaves, fez a volta no alto da Serra e desceu sentido litoral. Com o raciocínio rápido, Giovani não pensou muito antes de iniciar uma sequência de ações que resolveria o que começou em um dos cartões-postais de Santa Catarina. “Abordei o motorista de um Fiat branco. Ele nos atendeu rápido e eu voltei com ele para perseguir o assaltante na Dona Francisca”, conta. Vanessa ficou na cachoeira com o filho e com a mãe. Mais tarde, subiram um pouco mais e encontraram abrigo em uma tenda que vende caldo de cana.

A perseguição começou na Serra, continuou na região de Pirabeiraba e terminou no Distrito Industrial de Joinville. Giovani conseguiu falar com as equipes militares e em pouco tempo mobilizou cerca de 50 profissionais e outras dez viaturas. Até um helicóptero, Águia, e as equipes da “P2” foram acionadas. No Distrito Industrial, o assaltante, a bordo do carro da família do casal, um Honda Civic de 2010, com placas de Joinville, já negociava com outros dois assaltantes. “Ele encostou o carro perto de uma região onde havia algumas construções e começou a passar todas as nossas coisas para um Santa Fé, com placa de São Paulo”, lembra Giovani. No carro, outro casal, uma jovem de 24 e um rapaz de 26 anos, já o esperavam.

Foi durante esta negociação que a Polícia Rodoviária entrou em ação. O grupo de assaltantes ainda conseguiu fugir. O Honda foi batido durante a fuga. “Até o airbag foi acionado. O prejuízo deve ser de uns R$ 8 mil”, soma. No meio do matagal, os três tentaram escapar da Polícia. Houve troca de tiros e por fim, a captura do grupo. Além dos danos no carro, a família de União da Vitória também teve roubado cerca de R$ 500.

Nem tão desconhecidos assim

Durante a captura, um dos integrantes do grupo pedia desculpas à família. Segundo informações, ele teria reconhecido suas vítimas e lamentava conhecer, inclusive, a cidade natal delas. Em casa, a família fez buscas na rede social. O casal mantinha um perfil e nas fotos, exibia luxo e riqueza.

A confirmação sobre esta proximidade com a região ficou reforçada quando o casal leu algumas mensagens no celular da mulher, membro da quadrilha. Ela teria perdido o celular durante a fuga. Os textos falavam na “conquista” de outros veículos e sobre uma breve passagem em União da Vitória, à passeio.

Saldo

Da experiência negativa, restaram os agradecimentos. “Graças a Deus ninguém ficou ferido, ninguém morreu. O que é material a gente corre atrás de novo. Uma vida não”, sorri Giovani. Vanessa, que assim como seus familiares jamais havia enfrentado algo similar, ainda custa a acreditar que o assalto, de fato, foi real. Há apenas três dias da cena – o assalto foi no dia 8 – ela lembra da aproximação inesperada. “A pior sensação do mundo é ter uma arma apontada para sua cabeça”, lembra.

Ficando longe de problemas

A família de União da Vitória aprendeu a lição. Depois do assalto, mais calma, entendeu  a orientação militar. “Nunca pare sozinho nestes locais”, repete Vanessa. Vale lembrar a íntegra do conselho: em lugares com pouca movimentação, ainda que turístico, o ideal é estacionar quando houver outros carros por perto. A falta de proteção e de público, aumenta a vulnerabilidade.

Onde fica?

A Serra Dona Francisca é um dos roteiros mais comuns e mais movimentados para quem quer chegar ao litoral de Santa Catarina. Ela começa logo após o município de Campo Alegre. A rodovia foi projetada em 1855 por um engenheiro alemão. Por boa parte de seu traço original continua sendo utilizada. O trecho liga o Norte catarinense com o estado do Paraná.

Destino comum para a família

De acordo com as vítimas, o litoral catarinense era visitado todos os anos, sempre na temporada de Verão. A observação da cachoeira também era algo comum. Segundo a família, na ida para o litoral, ela já havia parado por lá. Em outros anos, o mesmo roteiro era feito.