SÃO BRAZ: Vereadores questionam administração da entidade e falam em intervenção

A administradora do Hospital falou sobre a polêmica do sobreaviso e outros assuntos

·
Atualizado há 6 anos

vereadores-portouniao-hospitalsaobrazUm novo capítulo da história da crise financeira do Hospital São Braz foi desenhado na Câmara de Vereadores de Porto União na noite de terça-feira, 17. Os parlamentares usaram discursos fortes, explosivos e duramente críticos. Tudo isso, direcionado à administração da entidade, a atual e a administração anterior. Os vereadores criticaram o documento divulgado na sexta-feira passada pela administração do Hospital, comunicando a paralização do sobreaviso, apontado pelos legisladores como um comunicado ‘aterrorizante para a população’.

Pelo menos quatro vereadores subiram o tom na tribuna da casa. O vereador Gildo Masselai (PSDB-SC) afirmou que a administração do hospital é “incapaz” e disse que pode conseguir alguém muito bem preparado para administrar o hospital de graça e que em seis meses o hospital estará “de pé”. O pronunciamento contundente do vereador arrancou murmúrios de quem assistia a sessão.

 

Outro vereador que demonstrou indignação foi Sandro Calikoski (MDB-SC), que criticou as mudanças constantes nos nomes da diretoria e também sobre os números das contas do hospital. Em seu pronunciamento Calikoski condenou as manifestações de alguns profissionais ligados ao hospital em redes sociais, provocando ainda mais tumulto. O vereador terminou sua fala sugerindo que a administração deixe o hospital. “Se vocês não têm capacidade de tocar aquilo [o hospital] passem para nós! Peguem o boné e vão embora”, desabafou.

Luiz Alberto Pasqualin (PP-SC) alertou que o Poder Legislativo precisa tomar uma posição firme para que o São Braz não pare com seus trabalhos. Para ele, uma paralisação dos serviços do hospital seria negativo para toda a região. Pasqualin avaliou que não se pode também contrair mais dívidas para pagar dívidas antigas, e ainda cobrou transparência nas prestações de contas da contabilidade no hospital.

O presidente Câmara, Christian Martins (MDB-SC), apresentou uma série de perguntas e disse que quer respostas da administração do Hospital. Os questionamentos foram aprovados pelos demais vereadores e serão enviados ao hospital em forma de ofício. “Nós, acompanhando as notícias distorcidas, infelizmente, de quem não sabe o que está acontecendo. Parece que quanto pior, melhor. Estamos em um ponto de que precisamos uma intervenção neste hospital. Parece que essa direção, contratada de outra região, conduzindo de forma desequilibrada o hospital, colocando em risco o nome e a imagem do São Braz. Não vamos admitir isso. Até porque estivemos com o governador de Estado na semana passada. Faltou bom senso”, lamentou o presidente.

Como a reportagem de O Comércio entrevistou a administradora do Hospital, Soraia Queiroz Onofre, na terça-feira, 17, alguns dos questionamentos feitos pelos vereadores também foram perguntados pela reportagem à administradora. Confira os principais pontos da entrevista:

Dívida do Sobreaviso – A dívida do sobreaviso chega, segundo Soraia, a R$ 295,8 mil de fevereiro a maio de 2018. O valor é menor porque o Estado repassou R$ 100 mil que foi usado para pagar parte dos atrasados devidos aos médicos plantonistas do sobreaviso. Ainda há dívida do mês de maio de R$ 125,3 mil para pagar aos médicos. Havia um resíduo da gestão anterior ao sobreaviso de R$ 182,4 mil. No entanto já foram pagos R$113,1 mil com recursos próprios do hospital, restando ainda R$ 69,3 mil para quitar o rombo.

Ontem, dia 18 de julho, uma reunião na Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, em Florianópolis, foi firmado o acordo para pagamento dos valores em atraso do projeto ‘Fonte 100’ (recurso utilizado no pagamento de parte do sobreaviso). O governo vai repassar o valor de R$200 mil reais mensais sendo R$100 mil referente ao repasse da competência do mês  e outros  R$100 mil referentes a quitação dos valores em aberto. Participaram dessa reunião, que foi agendada pelo Bispo Dom Severino, o Deputado Pe. Pedro Baldissera, o chefe de gabinete do Deputado Neodi Saretta, a administradora do Hospital São Braz, Soraia Queiroz Onofre, e a assessora da direção, Charlini Lima.

Valor do Sobreaviso –  O médico Luiz Roberto Santos Pires, que é médico responsável pelo departamento de obstetrícia/ ginecologia do Hospital e está à frente das negociações referentes ao sobreaviso, explicou que o valor total do sobreaviso é de R$106 mil por mês, sendo dividido entre os médicos nas especialidades de Anestesiologia, Cirurgia Geral, Obstetrícia/Ginecologia, Ortopedia e Pediatria

Dívida de R$ 1,5 milhão – A administradora afirma que o hospital está com as demais contas em dia, inclusive as prestações de um empréstimo de R$ 1,5 milhão e que o hospital não possui nenhuma alienação de imóvel ou bens.

SUS e particulares – Em dados percentuais, a administradora diz que a fonte de renda do hospital em relação a pacientes é de 80% pelo SUS e 20% são convênios Particulares. Porém, ela afirma que os valores pagos pelo SUS não são suficientes para cobrir as despesas dos atendimentos, pois os repasses estão com os valores desatualizados. Essa seria uma das razões do déficit do Hospital hoje.

Número de atendimentos – Conforme a administração, são atendidos 1300 pacientes/dia, que entre outros fatores leva em consideração os dias de internação, ou seja, a cada dia é computado um paciente dia, mesmo que seja o mesmo paciente internado por vários dias.

Relacionamento com a prefeitura – A administradora disse que mantém relação profissional com a Secretaria Municipal de Saúde e não tem conhecimento de nenhum problema político. Já o prefeito de Porto União, eliseu Mibach, disse que houve uma maldade política, em um momento que antecede as eleições e tem muitas pessoas querendo crescer no jogo, querendo aparecer politicamente em cima da Saúde Pública e do Hospital São Braz. “O município está pagando o hospital, estamos tentando fazer o melhor possível, os médicos estão trabalhando estão fazendo o melhor também, isso é seriedade com a saúde pública.

Contratação da nova administradora – Soraia foi contratada pelo São Braz como pessoa jurídica, no dia 18 de agosto de 2017. Ela comentou seu currículo dizendo que tem 24 anos de experiência na área financeira e administrativa e 17 anos de experiência na área de auditoria, e que seu foco no hospital é contábil financeira e administrativa.

Diretor Geral – O padre Ederson Iarochevicz, pároco da Igreja Nossa Senhora das Vitória, a Matriz de Porto União, está respondendo pela diretoria geral do Hospital São Braz. Ele assumiu há cerca de 30 dias. Antes disso, quem estava nessa função era Fioravante Buch Neto. Conforme a administradora, o ex-diretor deixou a diretoria há cerca de 30 dias. Ele não pediu afastamento e sim deixou a diretoria e não possui atualmente, segundo ela, vínculos com o Hospital São Braz.

Consultórios médicos no hospital – Nenhum médico que tem consultório particular no Hospital (eles acreditam que entre 12 a 15 profissionais) paga qualquer tipo de aluguel ou condomínio para despesas como água, luz e limpeza, para usar as salas do hospital. Há tentativas de contratualização, mas alguns ainda resistem e o impasse está no departamento jurídico do hospital. A proposta é que os médicos paguem o valor de R$20 o metro quadrado das salas. O somatório final seria cerca de R$17 mil que seria usado para as despesas gerais do Hospital. Nesse cálculo, cada médico pagaria menos de R$1,5 mil reais mensais

Assessorias – A administradora confirmou que o Hospital recebe assessoria jurídica de um escritório terceirizado no valor de R$ 4 mil por mês. Também tem uma agência de comunicação, a Display que ajuda na divulgação do Hospital e também gerencia as redes sociais. Para isso, recebem R$ 937 mensais.

Interdição

O prefeito Eliseu Mibach já tinha dito que está conversando com o Ministério Público de Porto União e que está na pauta um pedido de intervenção administrativa no hospital. Os vereadores engrossaram o coro e o assunto também foi ventilado pelo presidente da Câmara, Christian Martins, que afirmou que a Câmara está acreditando que é necessária uma intervenção (administrativa). Ambos, prefeito e presidente do legislativo, afinaram o discurso de que estão preocupados com a imagem do Hospital São Braz.