SÍNDROME DO PÂNICO: Até jovens podem ser vítimas do transtorno

Ataques repentinos de temor intenso são os marcos dessa síndrome que tem tratamento e pode ser diagnosticada com ajuda profissional

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Atualizado há 7 anos

De repente, “do nada”, a sensação é de morte. Minutos antes, de pavor total. O corpo gela, ou sua demais, os batimentos aceleram e a respiração fica difícil. Depois de um tempo curto, bem curto, tudo volta ao normal. Essa é a cena mais comum vivida por quem enfrenta a Síndrome do Pânico.

O nome é praticamente autoexplicativo: quem tem o transtorno, enfrenta ocasiões de intenso medo, mas não sabe explicar exatamente de quê. “Ocorre um período de intenso temor ou desconforto que alcançam um pico em 10 minutos. Os sintomas mais comuns incluem palpitações ou taquicardia, sudorese, tremores ou abalos, sensação de falta de ar ou sufocamento, dor ou desconforto torácico, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, vertigem ou desmaio, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer, formigamentos e calafrios”, aponta a psicóloga, Marilei Krauss, especialista em Psicologia Clínica e em Acupuntura Tradicional Chinesa.

A frequência e gravidade destes “surtos” é variável. Conforme Marilei, alguns tem ataques frequentes (uma vez por semana), outros, citam surtos frequentes como diariamente por uma semana e ainda outros, com menor frequência, como dois por mês, durante muitos anos. Ocorre que, se o pânico for acionado por ‘contextos públicos’, como elevadores, viagem de automóvel, estar em pontes, lugares altos, não raro, quem enfrenta o problema procura ficar mais tempo em casa, logo, se isolando. E isso não é nada bom. Há situações, de acordo com a psicóloga, de pacientes que nem saiam do quarto, por medo de vivenciar o drama do pânico.

A Síndrome do Pânico pode ser diagnosticada. “O transtorno pode vir acompanhado ou não de Agorafobia, que é a ansiedade por estar em locais ou situações das quais escapar poderia ser difícil ou embaraçoso ou mesmo que o socorro, no caso de ter um ataque, poderia estar indisponível. Essas situações são evitadas ou suportadas com acentuado sofrimento ou exigem companhia”, explica.

Todos estes critérios de analise são estabelecidos por meio do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) e o Código Internacional de Doenças (CID-10). Médicos psiquiatras, médicos em geral ou mesmo psicólogos estão familiarizados com os critérios e aptos ao diagnóstico.

Perfil

Engana-se quem pensa que o transtorno é algo que só atinge adultos. Embora seja comum entre quem tem na faixa dos 30 anos, na verdade, até mesmo adolescentes podem ser vítimas dele, embora o número de casos seja pequeno. É mais incomum, também, após os 45 anos.

Para Marilei, o aumento expressivo de pacientes com a síndrome na última década, pode ser fruto de duas situações: à novidade do diagnóstico e, mais grave, à pressão de todo o sistema. “Até pouco tempo, essa concepção era negligenciada. Podemos pensar também, o que não seria a única explicação, em um aumento dos fatores precipitantes ambientais gerados pelas mudanças socioeconômicas dos últimos tempos, competitividade, exigências de desempenho no trabalho, perfeccionismo”, avalia.

A genética também interfere. “Existem contribuições genéticas, ambientais, comportamentais e socioculturais para isso. O sexo, por exemplo, é uma variável importante, sendo mais comuns em pessoas do sexo feminino do que masculino numa proporção de três por um”, aponta Marilei. Os parentes biológicos em primeiro grau tem uma chance até oito vezes maiores de desenvolver Transtorno do Pânico. E se a idade do início for antes dos 20 anos, os parentes em primeiro grau tem uma probabilidade até 20 vezes maior. “Existem também algumas doenças como arritmias cardíacas, hipertireoidismo, asma, doenças pulmonares e síndrome do colo irritável que podem estar associadas ao surgimento, embora isto não esteja claro na literatura”, alerta.

Psicologicamente, pessoas que cresceram em ambientes de superproteção podem estar mais propensos ao transtorno. Por conta da imaturidade emocional, respondem com mais ansiedade aos desafios naturais da vida. Contextos familiares que ensinam ao indivíduo crenças negativas sobre si mesmo como, por exemplo, “Eu não sou capaz”, “Sou fraco, frágil”, “Não dou conta de cuidar de mim mesmo”, aliado a algum fator precipitante como o falecimento de alguém próximo, mudança de cidade, emprego, perda de relacionamento, podem também predispor ao transtorno. “Filhos de mães ou cuidadores ansiosos, que nos cuidados com o bebê demonstram medo, insegurança, inconsistência, ou mesmo labilidade de humor (ora apática, ora agressiva) demonstram comportamentos tão ansiosos quanto suas mães na idade adulta”, aponta a profissional.

Tratamento

A Síndrome não tem cura, mas tratamento. Situações mais simples, podem ser tratadas nos consultórios, com técnicas mais tranquilas. Já casos moderados e graves, contudo, requerem tratamento médico-psiquiátrico, inclusive, com a necessidade de uma ajudinha medicamentosa. “Estudos sugerem que entre seis a dez anos pós-tratamento cerca de 30% dos indivíduos estão bem (em remissão completa), 40-50% melhoraram, mas ainda estão sintomáticos (em remissão parcial) e 20-30% tem sintomas iguais ou ligeiramente piores”, sinaliza Marilei.

O afeto da família ajuda bastante também. Primeiro, quando ela se une para tranquilizar quem enfrenta o transtorno, especialmente durante o processo de crise. “É muito importante instruir ao paciente que respire pelo nariz e não pela boca para controlar a frequência das inspirações evitando a hiperventilação pulmonar. Algumas técnicas de relaxamento também podem ser utilizadas como permanecer deitado com os olhos fechados, respirando lentamente e profundamente concentrando-se num cenário tranquilo e relaxando cada grupo muscular. O incentivo para a busca de tratamento médico e psicológico também é muito importante”, sorri.

Foto: arquivo pessoal