Por segurança, Grupo Globo e Folha não cobrirão mais Bolsonaro no Alvorada

Decisões começam a valer a partir desta terça-feira, 26

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Atualizado há 4 anos

Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Sérgio Lima/Poder360).
Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Sérgio Lima/Poder360).

Alegando falta de segurança para o trabalho de jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília, o Grupo Globo e a Folha de S.Paulo decidiram nesta segunda-feira, 25, deixar o plantão naquele lugar. Separados por apenas uma grade, apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem partido) cada vez mais agressivos vem insultando os profissionais desses veículos.

Em nota endereçada ao ministro do Gabinete de Segurança  Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, bem como a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), a Folha de S.Paulo enfatizou a falta de segurança para seus profissionais e que retorna a cobertura no local somente quando o Planalto garantir segurança aos jornalistas.

“A Folha decidiu suspender a cobertura jornalística na porta do Palácio do Alvorada temporariamente até que o Palácio do Planalto garanta a segurança dos profissionais de imprensa”

A Folha ressaltou ainda o caso de um repórter que foi hostilizado e uma mulher que ao passar por uma fila de jornalistas disse:

“Ó o lixo, ó o lixo, ó o lixo. Escória! Lixos! Ratos! Ratazanas! Bolsonaro até 2050! Imprensa podre!”

Em outro ponto do posicionamento a Folha pontuou um fato o qual até o momento não obteve resposta do governo:

“Pouco antes dessas agressões verbais, o presidente, ao passar perto dos repórteres, criticou a imprensa. ‘No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo’, disse. Alguns simpatizantes dele apoiaram respondendo ‘Isso aí’. Os xingamentos aos jornalistas que esperam a saída de Bolsonaro na porta do Alvorada diariamente se tornaram comuns, mas, desta vez, a agressividade foi maior”

O Grupo Globo encaminhou uma nota ao ministro Augusto Heleno a respeito da decisão que inclui a TV Globo e o site G1. O posicionamento foi assinado pelo Vice-Presidente de Relações Institucionais, Paulo Tonet Camargo.

Confira a íntegra da carta do Grupo Globo

Ao cumprimentar V.Exa., trazemos ao conhecimento desse Gabinete uma questão que envolve a segurança da cobertura jornalística no Palácio da Alvorada. É público que o Senhor Presidente da República na saída, e muitas vezes no retorno ao Palácio, desce do carro e dá entrevistas bem como cumprimenta simpatizantes. Este fato fez vários meios de comunicação deslocarem para lá equipes de reportagem no intuito de fazer a cobertura.

Entretanto são muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico.

Estas agressões vêm crescendo.

Assim informamos por meio desta que a partir de hoje nossos repórteres, que têm como incumbência cobrir o Palácio da Alvorada, não mais comparecerão àquele local na parte externa destinada à imprensa.

Com a responsabilidade que temos com nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos que tomar essa decisão.

Respeitosamente,

Paulo Tonet Camargo

Vice-Presidente de Relações Institucionais

Grupo Globo

A TV Bandeirantes em resposta ao colunista Maurício Stycer confirmou que “também está retirando seus profissionais da cobertura da porta do Palácio da Alvorada a partir de amanhã (terça-feira).”

Outras emissoras foram procuradas pelo colunista sendo o SBT sem posição a respeito, Record TV mantendo a cobertura no local e CNN Brasil que não respondeu.

Liberdade de imprensa

Em período de pandemia o trabalho jornalístico é essencial como definiu o Governo Federal, em 22 de março em publicação no Diário Oficial da União. Mas, o trabalho da imprensa vem sofrendo consequências da crise política que vivencia o país.

No início do mês de maio, o presidente Jair Bolsonaro mandou repórteres calarem a boca ao ser questionado se interferiu na mudança da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, berço político de sua família. No dia seguida, Bolsonaro pediu desculpas.

Durante uma manifestação em prol de Jair Bolsonaro, jornalistas foram agredidos em frente ao Palácio do Planalto em Brasília. Por ironia do destino, as agressões aconteceram em 3 de maio, que é lembrado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Já no dia 20 de maio, uma equipe da TV Integração, afiliada da Rede Globo foi agredida por um empresário durante a gravação de uma reportagem na cidade de Barbacena, interior do Estado de Minas Gerais.

Discordância de ideias faz parte de um país democrático, mas, nada justifica ataques e violência contra profissionais que tem na cobertura jornalística seu sustento como qualquer outro trabalhador.