Araucária deve ser extinta até 2070

Coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Guilherme Karam, falou sobre estudo que prevê o fim da espécie

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Atualizado há 4 anos

ARAUCÁRIA Vale do Iguaçu é região de grande concentração da espécie: na praça Visconde de Nácar, no centro de União da Vitória, árvores resistem ao tempo (Fotos: Mariana Honesko).
ARAUCÁRIA | Vale do Iguaçu é região de grande concentração da espécie: na praça Visconde de Nácar, no centro de União da Vitória, árvores resistem ao tempo (Fotos: Mariana Honesko).

Ela é símbolo do Paraná. E está ameaçada de extinção. Dos 20 milhões de hectares da extensão original da Floresta com Araucárias, hoje restam apenas de 1 a 3%. Por isso, para o futuro, a expectativa de cientistas da Universidade de Reading, no Reino Unido, não é nada positiva. Segundo estudo publicado este ano na Wiley Online Library, a araucária (Araucaria angustifolia) deve ser totalmente extinta até 2070, como resultado da intensa e predatória exploração madeireira e do manejo inadequado das sementes.

Este cenário é agravado pelas mudanças climáticas, que interferem nesse e em outros ecossistemas. Para os cientistas, apenas intervenções direcionadas podem ajudar a garantir a sobrevivência da espécie na natureza.

Componente importante da Mata Atlântica, a araucária ocorre predominantemente nos estados do Sul do Brasil e em algumas regiões serranas do Sudeste. Atualmente, os poucos remanescentes da espécie estão localizados em pequenas e médias propriedades rurais, que asseguram aos agricultores uma importante fatia de renda por meio da extração do pinhão (semente da araucária) e das folhas de erva-mate.

Foi sobre este assunto que o coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Guilherme Karam, conversou com a reportagem da CBN Vale do Iguaçu e que aqui, O Comércio reproduz parcialmente. “O prognóstico é bem negativo. Hoje, menos de 1% da floresta original restou. Tínhamos mais de 20 milhões de hectares, especialmente no Sul, e por conta do seu alto valor econômico, da madeira araucária e pela ocupação agrícola, a floresta foi altamente pressionada”, apontou. “Os números são realmente bem ruins”.

De vulnerável, em 1998 e 2000, a Araucaria angustifolia passou para a categoria ‘criticamente em perigo’ em 2006. Pesquisas indicam que a Floresta com Araucária já perdeu aproximadamente 97% de sua área original, o que compromete totalmente a variabilidade genética da araucária. Esse quadro se deve, dentre outros fatores, à conversão das áreas de florestas nativas (Floresta com Araucária) para a agricultura, ao crescimento das cidades e ao uso da madeira.

Em 2001, mapa do Ministério do Meio Ambiente já mostrava que áreas de floresta com araucária em estágio avançado de conservação não passavam de 0,8% (66 mil hectares) de remanescentes. O Paraná já chegou a ter oito milhões de hectares cobertos por Floresta com Araucária. Hoje a situação é muito mais grave.

 

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Entrevista

Jornal O Comércio (JOC) – A questão climática agrava estes números tão impactantes?

Guilherme Karam (Guilherme) – Sim. Dados mostram que se a temperatura global subir dois graus Celsius, e tudo indica que isso vai acontecer e até mais, vai ficar mais difícil manter florestas nativas, como é o caso da araucária. Os ecossistemas vão estar mais quentes e isso faz com que seja mais complicada a sobrevivência da araucária, por exemplo, que é de região mais fria.

JOC – Diante deste cenário, é possível recuperar algo?

Guilherme – Temos que conversar o que restou, privadas ou públicas; o que foi degrado, é possível sim recuperar e mais do que isso, é importante gerar valor econômico para os renascentes florestais. Neste sentido que desenvolvemos o projeto ‘Araucária +’ buscando um mercado diferenciado, que paga mais por pinhão, erva-mate, se o produtor estiver com um padrão sustentável.

JOC – Qual a representatividade da araucária para a nossa região?

Guilherme – É uma árvore linda, que representa muito bem a nossa região. Ela está na bandeira do Paraná. Ela faz parte da nossa história então, é mais do que um dever nosso conservar a floresta.

JOC – Há quem não acredite na extinção da árvore.

Guilherme – Sim, há quem não acredite porque tem uma araucária em casa, no quintal, vê algumas na rua ou conhece um bosque. Estamos falando do ecossistema, que traz com ele até os animais que dependem dela. É isso o que tem que ser conservado. Araucárias individuais, pode ser que a gente tenha para sempre. O que a gente quer é outra coisa.

JOC – Como estão as políticas públicas neste sentido, da preservação?

Guilherme – Sim, existe um marco legal, interessante, mas nada ainda estruturado, público, com essa intenção.