CORAGEM NA INTERNET: A intolerância está online

Escondidos atrás de uma tela, internautas munem-se com palavras toscas e ofensivas, metralhando o que mais convém e liberando seu lado mais sombrio

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Atualizado há 5 anos

(Foto: Reprodução internet).
(Foto: Reprodução internet).

A internet parece ser um escudo, para muita gente. É ali, no silencio do quarto, da cozinha e até do banheiro, que dedos afiados teclam ofensas, digitam ódio, e cospem horrores para quem quiser ler. Pessoalmente, é outra história. Nem sempre – quase nunca – a coragem que se tem atrás da telinha se replica pessoalmente, no olho no olho. E na rede social, o veneno vai para todo mundo, ofenda ou não. Se não gostou do lacinho no cabelo, lá vão caracteres com desprezo intoxicados em ‘caps lock’. Se não curtiu o piercing no nariz ou acho que o adereço deixa quem o usa menos confiável, mais uma chuva de palavras ao vento, que vão chegar ao alvo, seja por um print ou pela visualização no mesmo momento do comentário.

“Muitas pessoas se aproveitam do fato de estarem escondidas (atrás da tela) para injuriar, difamar ou caluniar alguém”, afirmou em entrevista para a CBN Vale do Iguaçu, a advogada, Jília Martins. Pesquisadora do assunto, ela defende que a liberdade de expressão pode passar dos limites e sim, se tornar crime.

A violência praticada na internet já tem jurisprudência e pode ser registrada em Boletim de Ocorrência (inclusive nas delegacias de Polícia Civil do Vale do Iguaçu). Ainda neste mês, conforme publicou a Carta Capital, o deputado federal pelo Maranhão, Márcio Jerry, protocolou um projeto para punir crimes de ódio na internet. A proposta pretende estabelecer multa e reclusão a quem difundir e induzir a intolerância nas redes.

“A partir da alteração do Código Penal, passará a ser crime todo tipo de veiculação que incitar o ódio, a exclusão e violência, de qualquer forma, inclusive simbólica, por motivo de raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, nacionalidade ou etnia, idade ou condição de pessoa com deficiência”, explica a matéria. “É preciso tornar a tolerância real também no meio virtual”, afirma o parlamentar.

O projeto ainda prevê o aumento da pena, que vai de um a três anos de cadeia, para casos praticados sob ameaça, abuso de autoridade, contra menores de 18 anos, por cônjuge, contra o direito de imagem ou que gere prejuízo econômico.

A Internet é um meio de comunicação rápido e global. Alguns fazem uso dele da maneira certa. Outros, usam com a intenção de praticar maldades – e partir dos compartilhamentos, se torna quase impossível controlar. É comum, ainda, que o ofensor se esconda no anonimato. Mas, a internet vem perdendo, aos poucos, o rótulo de ser uma terra de ninguém. “A Legislação vem correndo atrás do prejuízo a partir de grandes casos que aconteceram. O Poder Judiciário vem despertado para isso, para socorrer as pessoas vítimas de alguma forma”, comentou Jília na entrevista. Entre as medidas mais recentes de proteção estão, por exemplo, a Lei de Crimes Digitais e o Marco Civil da Internet, criados para garantir direitos, deveres e punições aos internautas.

Liberdade

É regra: a liberdade de um termina quando a do outro começa. E quando o outro se sente magoado, ofendido? Ai sim, é sinal claro de que os limites foram empurrados para o buraco. Foi querendo se esconder num deles, que uma jovem estudante se sentiu ao ler um comentário em uma postagem em vídeo feita por ela, dentro de um material de trabalho. “No começo me assustei, porque não pensei que em pleno 2019 alguém iria fazer um comentário do tipo, focando em detalhes estéticos para denegrir o lado profissional. Fiquei triste porque para fazer o vídeo tem o trabalho de todo mundo da redação, tem a apuração, tem a matéria O vídeo é para divulgar esse conteúdo e informar aos seguidores da página e é isso que deveria ser o interesse de quem assiste, não para apontar ‘defeitos’ que a pessoa acha que quem está ali tem”, conta ela que prefere não se identificar. “Na hora eu realmente repensei todo o trabalho que a gente tem para fazer os vídeos, porque a ‘crítica’ que ele fez foi com a intenção de invalidar todo o nosso trabalho por causa dos acessórios que eu uso”.

Embora a internet venha cada vez menos sendo ‘terra de ninguém’, ainda há quem abuse da falta de regras claras e definidas sobre o assunto. Entendendo que a punição não vem, internautas praticam bulling ofendem, criticam e distorcem as informações. Nem é preciso abrir espaço aqui para o discurso das fakes, por exemplo.

Fofoca e boataria, que embora sempre estiveram na boca do povo, estão cada vez mais perigosas e entender os conceitos que moldam a liberdade de expressão podem fazer diferença na hora de postar algo. Preconceito é, por exemplo, uma opinião prévia sem fundamento. Crítica se refere à algo técnico, como a crítica de música, de espetáculo. Opinião é simples. É o entendimento leigo sobre algum assunto.

Ter um posicionamento diferente de outra pessoa é salutar e positivo. Cada ser humano é um, com suas histórias, suas cargas emocionais, sua bagagem cultural. Mas, a forma de expressar tudo isso é o que faz a diferença.

“Acredito que muitas pessoas ainda não sabem que tudo o que é dito na internet é passível de processos, e que elas podem sim ser responsabilizadas, inclusive criminalmente, pelo o que dizem. A tela funciona como um escudo, onde muitos se sentem acima da lei e até acham que se o comentário for apagado não serão responsabilizados. E ainda, somado a isso, tem aqueles que destilam ódio e preconceitos e depois se amparam na famosa frase, ‘mas é só a minha opinião’”, avalia a gestora de Comunicação Social, Anna Ritter.

E em um mundo tão tecnológico e conectado que a partir das lives que passam pelo feed, a vida real, de carne e osso, vai ficando machucada. Para erguer a cabeça, às vezes, basta apenas desligar o celular.


Grupo Verde Vale de Comunicação

Pela exposição em seus canais de comunicação, a empresa já foi e é, com frequência, alvo de comentários maldosos e distorcidos. O entendimento particular do conteúdo jornalístico, da apresentação dele, ou uma opinião contraria sobre determinado material, torna o Grupo Verde Vale de Comunicação um alvo. A direção repudia e lamenta toda e qualquer narrativa desse gênero e ressalta que o conteúdo que vai ao ar, seja em vídeo, áudio, texto ou imagens, é pensado com cuidado e profissionalismo, de toda a esquipe. A liberdade de expressão e de imprensa, caminha, de mãos dadas e assim deve ser.